SAIBA PORQUE ATÉ AGORA NÃO FOI FEITO O RESTAURO DO MONUMENTO MAUSOLÉU DO IBIRAPUERA
JORNAL “DIÁRIO DO COMÉRCIO”, DE 27 DE MARÇO DE 2012
‘ O OBELISCO ESTÁ SANGRANDO” – FRASE DE PAOLO EMENDABILI, neto do escultor do monumento feito aos heróis de 1932, revela o descaso com um dos cartões-postais de SP.
A poucos meses das comemorações dos 80 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, o Obelisco do Parque do Ibirapuera mais uma vez continuará fechado ao público por causa da infiltração de água que compromete a estrutura do monumento. Há dez anos, o interior do local é totalmente fechado aos turistas, com raríssimas exceções – duas vezes por ano, no máximo. Na semana passada, a reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO entrou no Obelisco do Ibirapuera, cujo nome verdadeiro é apenas “32” para verificar a saúde de um dos principais cartões-postais de SÃO PAULO. O resultado é desanimador. Na semana da visita do DC, o monumento ficou às escuras por causa de uma pane elétrica, cujas causas ainda são desconhecidas. Há quem acredite na hipótese do problema ter sido provocado pela infiltração de água. Se isso ficar confirmado, será mais um dos danos causados pelo gotejamento que ocorre no teto e se espalha por vários ambientes no mausoléu, que fica dentro do Obelisco. Logo após descer os nove degraus que separam a Avenida Quarto Centenário e o mausoléu, já é possível encontrar manchas escuras no pórtico de entrada, provavelmente causadas pela infiltração de água. Ao passar pelos primeiros arcos do mausoléu, há uma primeira sala conhecida como a Câmara dos Leigos. Nela, há duas portas laterais, sendo que cada uma delas leva a outras duas salas.
Capacetes – no local há banheiros, uma cozinha usada por um policial que monta guarda no monumento e um depósito com os mais variados objetos. É justamente nesta sala, bem ao lado daqueles cones alaranjados usados pela CET para realizar bloqueios nas ruas e avenidas, onde estão dezenas de capacetes usados pelos combatentes de 1932. Os objetos, que poderiam estar expostos ao público em algum museu paulista, estão empilhados em um canto de uma sala e, a cada dia, ficam mais empoeirados. Seguindo em direção ao interior dos subterrâneos do Obelisco, ao passar pela segunda trinca de arcos, há uma sala conhecida como Câmara de Reflexão. É nela que estão os restos mortais de 72 (????) combatentes que lutaram na Revolução de 32.
Campanha – Um dos ilustres personagens desse importante período da história de São Paulo é CARLOS DE SOUZA NAZARETH, ex-presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP) e um dos idealizadores da Campanha “OURO PARA O BEM DE SÃO PAULO”. Nesta sala já é possível verificar o devastador efeito da infiltração: a água invade a sala por meio de pequenas frestas no teto da câmara. Assim, gota a gota, as paredes e o piso de mármore travertino, que deveria ser branco, está manchado e ganhou uma coloração avermelhada, semelhante a sangue. ‘Olhando a cor da mancha no mármore, ela lembra sangue. Mas é isso o que está acontecendo com o monumento. Ele está sangrando por causa do descaso”, disse Paolo Emendabili, neto do escultor do monumento, Galileo Emendabili, e que acompanhou a reportagem na visita ao Ibirapuera. A água que escorre em vários ambientes da edificação é outro mistério. Curiosamente, elas não cessam nem mesmo nos dias ensolarados, o que levanta a hipótese de que o vazamento não ocorre apenas por causa da chuva, mas também em decorrência de fissuras na estrutura do espelho d´água que circunda o Obelisco. Neste caso, não é difícil suspeitar que há um grande problema em curso e que pode afetar o futuro do mausoléu.
Mais adiante está a Câmara do Templo Sagrado, localizada logo abaixo da base do Obelisco e que abriga a estátua de um soldado anônimo esculpido em mármore de Carrara. Na verdade, o tal combatente tem, sim, uma identidade. Segundo Paolo Emendabili, Galileo esculpiu o rosto do seu pai (bisavô de Paolo), LUDOVICO, na imagem do soldado constitucionalista com os olhos semi-cerrados e deitado com o peito virado para o cume do Obelisco. Nos pés da estátua outra goteira no bocal onde é inserida a lâmpada ameaça manchar a estátua em mármore do soldado. A goteira, nesse caso, parece ser ainda mais antiga, especialmente por causa da enorme mancha avermelhada e também negra no piso da sala. A mesma mancha ainda e visível em uma sala ao lado, onde está localizado um altar com a imagem de JESUS CRISTO ainda pequeno. Sobre o altar há um ninho de cupins no interior de uma câmera.
Ação Popular – Há ainda uma sala com um enorme buraco no teto, aberto em decorrência da falta de manutenção. “Há inúmeras goteiras no interior do complexo construído pelo meu avô. Não dá mais para ver tamanho descaso. Vamos avaliar, mas vou ingressar com uma ação popular e exigir a imediata restauração nos próximos dias. Há risco de desmoronamento”, afirma Paolo Emendabili. Em 2006, o governo do Estado, a Polícia Militar e o próprio Emendabili assinaram um convênio para a preservação do imóvel. Nele, o governo do Estado assumiu o compromisso pelas obras e restauro do espaço, na época avaliada em cinco milhões de reais. ‘Hoje o valor é maior, pois os danos mudam a cada mês. Alguém tem que fazer alguma coisa”, disse Paolo.
Essa reportagem enseja uma série de telefonemas à Sociedade nesta tarde. É providencial a reportagem do DIÁRIO DO COMÉRCIO, pois nós lutamos pelo restauro desde 2002, quando ele seria feito pela NESTLÉ. Uma pendenga judicial determinou a paralisação das obras. A NESTLE sai da lide e entra a CLARO. Aí vem um outro processo, movido pelo próprio Paolo, em 2004. Nova paralisação e a NESTLÉ tira o corpo fora. Isso quer dizer que por causa de questiúnculas judiciárias, movidas por pessoas que têm interesses no monumento, causaram todo esse prejuízo. Na verdade, esse RESTAURO já estaria pronto há muitos anos atrás, se não acontecessem essas interferências altamente prejudiciais ao trabalho que vinha sendo patrocinado, primeiramente pela NESTLÉ e depois pela CLARO. Os que agora reclamam pela atual situação do Monumento são os principais causadores desse estado de coisas.
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